Novo pterossauro brasileiro esclarece a origem dos répteis de asas
Tecmundo
Cientistas brasileiros divulgaram neste mês a descoberta de mais um pterossauro brasileiro, chamado de Kariridraco dianae, uma inusitada homenagem aos índios Kariris, habitantes da região onde o fóssil foi descoberto, e à Diana Price, a Mulher-Maravilha das histórias em quadrinho.
Descrito em uma pesquisa publicada na revista científica Acta Paleontologica Polonica, o animal recém-descrito provavelmente tinha uma estatura inferior a um metro, mas sua envergadura podia chegar a três metros, por ter asas e fazer parte do clado dos pterossauros edêntulos (sem dentes). Sua característica mais marcante, uma enorme crista na cabeça, provavelmente estaria ligada à comunicação visual exibida durante o acasalamento.
De acordo com os autores do estudo, pesquisadores da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul, e do Museu Nacional (RJ), essa crista coloca o réptil alado no grupo dos tapejarídeos, cujos membros habitavam regiões distantes entre si do mundo ancestral. Há exemplos da espécie no supercontinente austral de Gondwana (América do Sul, África, Antártica e Oceania) e no hemisfério oposto, na Laurásia (Ásia, América do Norte e Europa).
A paleobiogeografia dos Tapejarídeos
Fonte: Gabriela Cerqueira et al./Reprodução
De acordo com os pesquisadores, a descoberta do Kariridraco dianae ajuda a identificar a origem dos tapejarídeos, que deve ser mesmo na América do Sul, em Gondwana. Não por acaso, é na Chapada do Araripe, na região Nordeste do Brasil, que são encontrados os fósseis de pterossauros mais bem preservados do mundo.
Os pterossauros constituem uma espécie curiosa. Embora tenham um ancestral evolutivo comum, nada têm a ver com os dinossauros. Eles foram os primeiros espécimes a conquistar os céus do planeta 80 milhões de anos antes que as aves começassem a existir, assemelhando-se a aviões de pequeno porte. E, apesar dos voos e das asas, as aves descenderam diretamente dos dinossauros, e não dos pterossauros.
Um dos autores da pesquisa, Felipe Lima Pinheiro, explicou em comunicado à imprensa, que o fóssil do Kariridraco dianae não veio de uma escavação oficial, apesar de toda a riqueza da formação Romualdo, na chapada do Araripe. A peça foi comprada de trabalhadores locais que vendem esses fósseis como meio de subsistência. Para desespero dos pesquisadores, a importante descoberta para a paleontologia brasileira veio colada com durepoxi.
Por isso, tão logo concluído o estudo, os pesquisadores se apressaram em depositar o novo fóssil no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, em local bem próximo onde foi encontrado. Para Pinheiro, “Fósseis brasileiros devem permanecer no Brasil, onde não são apenas objeto de estudos científicos, mas também patrimônio cultural”.
ARTIGO Acta Paleontologica Polonica: doi.org/10.4202/app.00848.2020