Far Cry 6 é mais do mesmo com uma pitada de evolução
Tecmundo
Já faz 17 anos que a Ubisoft lança os jogos da franquia Far Cry. Ela se tornou uma das franquias de maior sucesso da publisher francesa, junto com Assassin’s Creed, Tom Clancy e Watch Dogs. Quem conhece essa série sabe que não importa quem é o protagonista, em que cenário se passa ou o que vai dar pra fazer no imenso mundo aberto, o que importa de verdade é o vilão.
Quando Far Cry 6 foi anunciado, ele já chegou chutando a porta colocando como antagonista Anton Castillo, interpretado por ninguém mais ninguém menos que Giancarlo Esposito, que está acostumado a fazer um cara malzão, como Gus, de Breaking Bad, e Moth Gideon, de O Mandaloriano.
Dito isso, este é mais um capítulo da franquia que chegou a moldar a base que os mundos abertos de vários jogos são hoje, mas que para muitos estava caindo muito na mesmice. Será que essa nova aventura consegue trazer novidades suficientes para tirar essa impressão? Confira também nossa análise em vídeo:
Desenvolvimento
Em Far Cry 6, você é Dani Rojas, podendo escolher um protagonista homem ou mulher. Seja qual for, não muda a história, o que importa é que você encarna um/uma ex-militar que por conta do regime ditatorial da família Castillo no arquipélago de Yara quer fugir para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
Seus planos não dão muito certo e ao tentar escapar da ilha acaba sendo interceptado pelo próprio Anton Castillo que estava a procura de seu filho Diego. Esse exato momento do jogo mostra como a Ubisoft trabalha bem seus vilões, revelando que eles não são apenas um cara mal querendo dominar o mundo, mas sim, um personagem bem construído e que às vezes é charmoso o suficiente para que as pessoas entendam seu lado do mal.
Após a tentativa fracassada de fugir, Dani acaba encontrando alguns membros de uma milícia de resistência chamada Libertad e sua líder Clara Garcia. No início, o protagonista concorda em ajudá-los em troca de um barco para que ele cumpra seu objetivo de sair dali e ir para a terra do Tio Sam, mas com o tempo ele acaba se envolvendo demais com o grupo e passa a lutar pela liberdade de Yara.
Este é com certeza mais um Far Cry
Notou algo no plot? Você lembrou um outro ditador meio maluco do mesmo universo de Far Cry? Bom, você deve ter percebido que parece bastante com o que acontece em Far Cry 4, que também temos um tirano com um parafuso a menos no poder (estou falando de Pagan Min) e também temos uma resistência que cativa o protagonista.
No início do game, você está limitado à Ilha santuário, por conta de um bloqueio naval que prendeu a resistência. Então, antes de se aventurar por toda Yara, é preciso cumprir algumas missões que podem ser tratadas como um tipo de tutorial.
Durante essas atividades somos apresentados a algumas mecânicas do game, como as gambiarras, captura de postos avançados, parças e outras mais. Depois disso, estamos liberados para explorar toda Yara para recrutar mais membros para a resistência. Existem quatro zonas na ilha principal, cada uma dominada por comandados diretos de Castillo. Opa opa, não já vimos isso em algum lugar? Far Cry 5 não dividia o mapa assim? Cada região era comandada por um membro da seita de Joseph Seed? hum…
Enfim, como eu estava dizendo, o mapa é dividido em quatro grandes regiões: Madrugada, Valle de Oro, El Este e Esperanza, a capital. Apesar de cada uma ser “dominada” por pessoas de confiança de Anton, elas também têm pequenos grupos revolucionários que lutam pela libertação de Yara, em El Este, temos as Lendas de 67, em Valle de Oro, temos o Máximas Matanzas e em Madrugada tem a família Montero.
Você viu aqui referências claras a Far Cry 4 e 5, certo? Você acha mesmo que não vai ter nada de Far Cry 3? Tem uma missão que precisamos queimar plantações de Viviro, exatamente como uma das missões do terceiro capítulo da franquia, só que lá você tinha que queimar uma planta… vamos dizer, mais diferentona.
Só para situar quem está lendo aqui, o Viviro é uma substância que é jogada em cima das plantas de tabaco, que segundo o plot do jogo pode ajudar no tratamento contra o câncer, sendo esse o principal produto de exportação de Yara.
Apesar de o jogo sugerir ao jogador começar em Madrugada, tentando recrutar a família Montero, temos total liberdade para começar onde quisermos e fazer tudo em qualquer ordem. Esse é um dos pontos legais que a franquia oferece: total liberdade para fazer a missão que quiser, na hora que quiser e como quiser. Se seu estilo é chegar chutando a porta explodindo tudo, o jogo não te pune por isso, se quiser agir na surdina e matar todo mundo sorrateiramente você também será bem-vindo.
Do LIXO ao LUXO
Agora, vamos falar de uma das coisas mais presentes de Far Cry 6: a customização. No game, podemos modificar todas as armas. Tá afim de um arco e flecha com dano de veneno? Tá na mão, uma metralhadora leve com tiros explosivos? Fácil. Um lança fogos de artifícios capaz de explodir uma arma antiaérea? Brincadeira de criança.
Far Cry 6 eleva toda a liberdade que tivemos nos jogos anteriores a outro nível. Isso sem contar as Gambiarras, ferramentas construídas a partir de uma porrada de porcaria que encontramos na ilha, mas que graças a Juan Cortez que é praticamente o Macgyver, somos capazes de transformar lixo em armas diferentonas, dando ao jogo um toque de originalidade, já que podemos contar armas de raios incapacitantes, snipers com tiros que adesivos que explodem, metralhadoras giratórias e outras coisinhas mais para apimentar os tiroteios.
E não dá pra reclamar de quantidade, o jogo conta com 53 armas diferentes e personalizáveis, sem contar com as armas especiais que tem atributos secretos (essas não podem ser customizadas).
Além desse arsenal, Dani também pode contar com o Supremo. Um tipo de mochila especial que vai garantir uma forcinha extra, podendo ser focada em cura, ataques de pulso eletromagnético, rajada de foguetes perseguidores, tem para todos os gostos de gameplay, basta você escolher uma e pronto.
Eu nem citei a customização do carro, que pode ser equipado com metralhadoras anti veículo, lançadores de minas e granadas e um parachoque sinistro para arrebentar o que estiver pela frente.
Mas não pense que vai estar tudo assim de bandeja desde o início do jogo, é preciso subir no ranque da resistência para ganhar autorização para fazer gambiarras e acessórios para as armas comuns. Além disso, quanto mais avançamos no jogo, mais soldados de elite são espalhados pelo mapa, por isso é bom estar bem preparado.
Muita coisa para fazer
Yara é como um grande parque de diversões, com muitas atividades para fazer. O que para alguns é uma tentação para outros pode se tornar um tanto cansativo. O jogador pode passar um tempo, jogando dominó, fazendo corridas de veículos como jetski e quadriciclos, pescando, procurando tesouros e colecionáveis, enfim, uma infinidade de passatempos que vão proporcionar mais e mais itens cosméticos como amuletos para pendurar no carro e nas armas, novas cores de armas e veículos, e etc.
Porém, existem atividades extras que se destacam, como a rinha de galo, um mini game de luta bem divertidinho que consiste em colocar dois galos para saírem na porrada estilo Street Fighter com barras de vida, especiais e tudo, as Operações Especiais da Lola, missões que devemos invadir um posto de guarda roubar um tipo de bomba e sair sem deixar que ela exploda em nossas mãos por conta do calor e também as operações de Los Bandidos, que devemos selecionar um grupo para fazer algumas missões com opções diferentes de desfechos que podem garantir uma boa grana ou até mesmo itens.
Quer mais? Tem como montar e evoluir suas bases, para poder garantir compras melhores de armas e equipamentos nos alojamentos, buffs especiais com a comida na cantina ou até ganhar a wingsuit montando a rede de abrigos.
Sem contar a busca pelos parças, animais que podem nos acompanhar nas missões que funcionam como um suporte, seja atacando os inimigos ou os distraindo, tipo o Chorizo que é a coisa mais fofa desse mundo.
Não posso esquecer de citar a trilha sonora, que combina demais com a ambientação do jogo baseada em Cuba. Enquanto andamos por Yara, algumas rádios tocam diversas músicas latinas cheias de malemolência, inclusive algumas bem famosas, como “Havana” de Camila Cabello e “Oye Como Va” de Santana.
Enfim, por mais que Far Cry 6 chupinhe muito do que já vimos nos jogos anteriores, ele sempre dá um jeito de evoluir sua gameplay mesmo que seja um pouquinho.
O outro lado da moeda
Você já deve ter percebido que até agora só falei das partes boas que experimentei e é verdade, mas toda moeda tem dois lados, então está na hora de falar das coisas que me desagradaram
Uma delas é que o jogo apesar de ter momentos bonitos, ele está bem aquém do que é possível se fazer na nova geração. Eu joguei em um Playstation 5, mas em momento algum eu tive um momento “UAU” em relação aos gráficos. Pelo contrário, não achei ele nada nada longe do que vimos no Far Cry 4 ou 5 da geração passada, mesmo baixando o pacote de texturas para nova geração que veio junto com o jogo. E isso é uma pena, pois a ambientação caribenha oferece tantos elementos interessantes para explorar graficamente.
Existem alguns bugs inocentes, como ver seu cavalo voando na estrada, mas existem bugs mais sérios, como ficar preso em uma torre porque o personagem que está com você na missão simplesmente não se move. Ou aquele velho clássico: atravessar o chão e cair no infinito sendo obrigado a dar um loading. Esse último aconteceu duas vezes comigo durante as mais de 36 horas de jogatina.
Outro ponto: existe uma certa repetição exagerada de NPCs. Se você andar por aí vai encontrar o mesmo modelo de personagem para conversar quase sempre, e não é só um daqueles que está andando na rua, são NPCs que falam com você e dão informações sobre locais onde atacar. Poderiam dar uma variadinha melhor aqui, né?
Mas o que mais me incomodou foi a clara queda de performance que o jogo tem nas cutscenes, a taxa de quadros cai abruptamente e o jogo parece dar pequenas travadas, mesmo em cutscenes pequenas como se você estivesse rodando o jogo em um PC fraco demais para aguentar as configurações o que não foi o caso. É importante deixar claro que eu joguei o jogo uma semana antes do lançamento oficial e a Ubisoft já informou que teremos um patch de Day One que vai corrigir alguns problemas, esperamos que corrijam esse pois tira um pouco da imersão de assistir as cenas que em sua grande maioria são bem legais.
VALE A PENA?
Para deixar claro aqui: eu sou fã da franquia Far Cry, um dos que defendem de verdade o que ela já trouxe não só para a série mas para toda a indústria. E posso classificar Far Cry 6 como um dos melhores jogos que joguei em 2021, mas sabemos que esse ano não teve uma safra incrível até agora. Usando uma frase do chef Erik Jacquin: faltou o “tumpero”, aquele último toque para refiná-lo e deixar realmente incrível.
Nem de longe é um game ruim, pelo contrário, é ótimo! Conta com uma gameplay evoluída quando comparado com seus antecessores, tem Giancarlo Esposito que faz um excelente trabalho como antagonista mantendo a marca registrada da franquia de trazer grandes vilões, uma infinidade de opções de customização, horas e mais horas de gameplay, uma história que pode não ser tão cativante ou mexer com questões tão polêmicas quanto a do Far Cry 5, mas é bem contada e o fato de você poder jogar a campanha inteira em coop com um amigo é maravilhoso.
Mas, o jogo deixa muito a desejar na parte visual levando em consideração que já estamos em uma nova geração de consoles. E também sofre de uma maldição que a Ubisoft tem já faz gerações: Bugs bestas, e bugs que realmente atrapalham a jogatina, depois do patch de Day One deve melhorar, mas é bom falar sobre isso. Nossa nota é 88.