Like a Dragon Ishin! é uma legítima experiência Yakuza de cara nova
Tecmundo
Mudar de cara não é algo novo para a franquia Yakuza. E não falo apenas da sua confusa atualização de nome no ocidente, finalmente migrando de vez para o "Like a Dragon" mais fiel ao título original japonês; nem mesmo de seu uso de outros gêneros e propostas, como o flerte com JRPG visto no último capítulo canônico da franquia principal.
A SEGA e a desenvolvedora Ryu Ga Gotoku Studio nunca tiveram medo de expandir os horizontes da série, normalmente com ótimos resultados. Por aqui, o spin-off Judgement já tinha feito bastante sucesso, mas até agora estávamos órfãos de alguns títulos lançados exclusivamente no Japão, como Ryu Ga Gotoku Kenzan! e a sua sequência Ishin!.
Peculiarmente, a produtora preferiu começar pelo segundo jogo nas Américas, e embora o rótulo oficial seja de remake, a minha impressão é de que seria mais justo considerá-lo uma remasterização de luxo mais ou menos na linha do que a Square Enix fez recentemente em Crisis Core Final Fantasy 7 Reunion, atualizando as suas texturas, efeitos de iluminação e modelos de personagem ao mesmo tempo em que dá uma boa polida no gameplay já um tanto datado.
Então o que temos em mãos é uma releitura de um jogo originalmente lançado em 2014, independente da forma como você quiser chamá-lo. Como tal, ele já sofre de cara ao passar por comparações diretas com os capítulos posteriores da franquia, que felizmente seguiram evoluindo a cada novo game. Ainda assim, os fãs da série certamente encontrarão bons motivos para experimentar ou revisitar Ishin!
Para os leigos, pode causar alguma estranheza desembarcar em um período histórico totalmente diferente do habitual (mais especificamente a década de 1860 no final do período Edo) e ver por lá vários rostos conhecidos com novas identidades. O bom e velho Kazuma Kiryu, por exemplo, agora é, na verdade, o ronin e novo protagonista Sakamoto Ryoma.
Ao invés de caminhar pelas brilhantes e agitadas ruas de Kamurocho — que dessa vez dá lugar às mais pacatas Kyo e Tosa —, tirar uma folguinha jogando fliperamas no Club SEGA ou conhecer belas donzelas no chat online, dessa vez participamos da vida relativamente bucólica de centenas de anos atrás, ainda que certas convenções da série sigam incólumes.
Logo cedo Ryoma é acusado de um crime que não cometeu e precisa fugir e abraçar uma nova identidade. Familiar, não? Da mesma forma, o texto ainda segue uma pegada edificante exatamente como você esperaria de uma legítima aventura do Kiryu, especialmente porque você é o tempo todo incentivado a fazer o bem, mesmo que as missões paralelas não sejam lá tão inspiradas quanto as que vimos nos últimos jogos da franquia.
Sempre que você ajuda alguém ou interage positivamente com a comunidade local, você ganha pontos de Virtue (virtude), mais uma camada no micro gerenciamento de RPG que norteia os sistemas de ação. Há árvores de habilidade para tornar Ryoma cada vez mais poderoso e habilidoso nos diferentes estilos de combate, minigames para se fortalecer, e buffs atrelados a uma boa alimentação nos restaurantes locais.
Em muitos sentidos, Ishin! talvez tenha o sistema de combate mais divertido entre todos os títulos da série. Bem cedinho na campanha de pouco mais de 20 horas de duração você ganha acesso a quatro estilos de luta alternando entre arma de fogo, espada, mãos nuas, ou uma mistura de espada e pistola, que eu particularmente achei o mais legal entre todos.
Misturando esquivas, bloqueios e combos, a ação flui de forma familiar o bastante para veteranos da franquia, com aquele cheirinho de beat 'em up intercalado por longas cenas de corte em cada capítulo. Talvez por ser um jogo de 2014, não achei a cinematografia tão inspirada assim, mas possivelmente eu só estou mal acostumado depois dos ótimos jogos mais recentes e suas cenas super empolgantes e tensas.
Seja como for, o fato é que notoriamente há um jogo com quase uma década de idade por baixo dos gráficos repaginados, então é evidente como algumas movimentações são mais travadas do que deveriam, além de ocasionalmente a inteligência artificial fazer com que os NPC caminhem de forma estranha ou até mesmo desapareçam do nada enquanto andam pelas ruas.
Não é nada que estrague a experiência, apenas um constante lembrete de que estamos jogando algo mais antigo por baixo da cara nova. Ao menos é fácil esquecer disso ao fazer as sempre divertidas atividades paralelas, ainda que muitas delas sejam um tanto pé no chão demais para os padrões da saga. Ainda assim, você vai se divertir cortando madeira, cuidando de fazendinhas, participando de danças ou mesmo se envolvendo com jogos de cartas e a já tradicional cantoria.
Em um passo para trás, depois de Yakuza: Like a Dragon receber maravilhosas legendas em português em um excelente trabalho de localização, Ishin! opta por oferecer somente legendas em inglês e áudio original em japonês. No quesito vozes, sem problemas, pois acredito que o clima todo é muito beneficiado ao curtir a obra com seus intérpretes na língua nativa, mas fica a torcida para que ao menos as legendas em português cheguem em algum momento através de patch.
A simples existência de Like a Dragon: Ishin! já é motivo de alegria para qualquer fã de Yakuza, já que nunca é demais encontrar nossos personagens favoritos, mesmo que com outras identidades e contexto. Apesar de claramente já ser um jogo um tanto datado, o seu sistema de combate envelheceu bem e pode ser até mesmo o mais divertido entre toda a franquia! A pegada um pouco mais pé no chão da narrativa casa bem com o seu tema mais sério sobre a história do Japão e sua fervente guerra civil, com um bom drama e interações temperando o caldo... ainda que a cinematografia dos jogos seguintes seja bem mais empolgante e melhor realizada. Se você é fã, vale a pena conhecer. Se não, é melhor começar pela série principal mesmo.