The Crew Motorfest fracassa ao abraçar o mundo - Review

The Crew Motorfest é o novo game de corrida da Ubisoft . Depois de cinco anos, a franquia volta a ganhar um novo capítulo, dessa vez com um foco em competições no modo solo ou por equipe, tendo como palco a ilha havaiana de O'ahu.

Mas será que depois de não ter tido o sucesso esperado com os dois primeiros capítulos, a franquia finalmente acertou a mão? Ou esse novo jogo enterra de vez as tentativas da Ubisoft de criar um game para competir com concorrentes, como Forza Horizon e Need for Speed ? Confira o review completo de The Crew Motorfest!

O principal ponto negativo do jogo é o mesmo que fez com que a franquia sofresse duras críticas nos jogos passados: a jogabilidade. The Crew Motorfest insiste em levar o jogador para o céu, o mar e a terra nas mais variadas modalidades, como corridas de lanchas, manobras aéreas com aviões, e corridas nos mais diversos tipos de terrenos. Entretanto, em nenhuma delas o título consegue acertar a mão.

As modalidades com lanchas em The Crew Motorfest fogem bastante da realidade.

Na água, as lanchas são de longe o modo mais irreal. A começar pela pilotagem, que se assemelha muito a dos carros, mas com o diferencial negativo de ter uma penca de elementos para lá de artificiais. Por exemplo, em boa parte das provas há uma série de rampas que fazem com que elas saltem, e caiam como se fossem caixas de isopor. Se não bastasse, elas acabam se aglomerando e causando uma enxurrada de bugs, como muitas delas pegando velocidade em cima de outras.

No ar a tragédia é similar. A forma com que você pilota os aviões consegue ser pior do que em jogos de mundo aberto, como GTA 5 e Saints Row , que não tem qualquer compromisso com a realidade nesse quesito.

Em muitos momentos, as pequenas aeronaves se comportam como se fossem feitas de papel, com um controle fácil em trajetos complexos, como numa baixa altitude e em meio a floresta. E com um controle complicado quando se está no meio do céu, e precisa simplesmente se deslocar para dentro de um círculo em uma prova.

Nem mesmo as modalidades aéreas escaparam da tragédia em The Crew Motorfest.

Já na terra, há muitos sinais de evolução em relação a The Crew 2. Porém, ainda há muita coisa que deveria ser corrigida, principalmente na hora de pilotar certos veículos, como as motos. É preciso muita prática para entender como elas se comportam, uma vez que possuem um desempenho similar ao dos carros, mas com um controle que não é nem um pouco preciso.

Vale destacar também outros veículos, como os famosos Monster Trucks, carros de rodas imensas, que também estão presentes no jogo. A jogabilidade com eles, nas suas respectivas provas, não muda quase nada em relação a de outras corridas de carros comuns.

E as máquinas da Fórmula 1 também sofrem com isso. Elas passam uma estranha sensação de "não velocidade". Isso porque, por mais que esses veículos atinjam facilmente mais de 300Km/h, a sensação é que estão muito abaixo disso. Já os carros "normais", que atingem no máximo 220Km/h, conseguem ser muito mais reais nesse ponto. Isso sem falar no sistema de desgaste e troca de pneus que, além de ser totalmente desnecessário, também é realizado de uma maneira bem irreal. 

Em The Crew Motorfest, os carros de Fórmula 1 precisam trocar os pneus durante as corridas.

Há alguma coisa que escapa? Sim! Correr com os carros normais, das famosas montadoras e que estão presentes em praticamente todos os jogos de corrida, ainda sim é divertido. Principalmente para quem gosta de uma jogabilidade totalmente focada no arcade, e sem compromisso algum com a realidade.

Uma curiosidade em The Crew Motorfest é que TODOS os veículos possuem o famoso Nitro. Para quem não sabe, ele é um Sistema de Óxido Nitroso, também conhecido como NOS, e que ficou famoso principalmente no primeiro filme da franquia Velozes e Furiosos. Quando acionado, ele dá um efeito de turbo, que faz com que o carro aumente muito a sua velocidade em um curto período de tempo.

Ver esse sistema de turbo aplicado em jogos de corrida é algo absolutamente normal, e que já é utilizado desde a geração 8 bits. Entretanto, The Crew Motorfest achou que seria interessante ampliar esse sistema para todos os tipos de veículos disponíveis no jogo. 

Tudo que se move em The Crew Motorfest usa Nitro.

Sendo assim, temos de lanchas a aviões usando o mecanismo a todo momento. E por mais que em muitos casos ele seja uma mão na roda, e até mesmo ajude na estratégia das corridas, não deixa de ser muito inusitado, e engraçado, ver um avião de pequeno porte usando o sistema em pleno voo livre. Pelo menos, para os que prezam pela realidade, é possível desativar a opção antes de começar qualquer prova.

A famosa frase, que se tornou um meme na internet, pode facilmente ser atribuída a inevitável comparação entre The Crew Motorfest e Forza Horizon. A começar pelo sistema de corridas e outras provas, que inclui desde as famosas atividades de "quebrar" o limite de velocidade de radares, até um sistema de eventos em determinadas regiões do mapa. 

Em The Crew Motorfest eles são chamados de Playlist e, mesmo sendo realizados no Havaí, cada um deles faz menção a países e regiões de todo o mundo. Por exemplo, é possível disputar uma série de provas com a temática japonesa, que incluem as famosas corridas noturnas, circuitos em meio a montanhas, e as populares provas de Drift - a modalidade de derrapagem. Tudo isso com carros exclusivos das montadoras orientais, e com um locutor falando algumas frases em japonês!

Até o sistema de festivais é similar ao adotado desde o primeiro jogo da franquia Forza Horizon.

E ainda sobre essas falas, a todo momento há personagens conversando com você no jogo. Em algumas vezes são informações importantes, como a de tesouros escondidos perto da região onde você se encontra, e que curiosamente também acontece com Forza Horizon. Já na maioria das vezes, são assuntos totalmente desnecessários e que incomodam bastante. 

Se não bastasse, o jogo não conta com dublagem em português, dessa forma, aqueles que não entendem a língua estrangeira, precisam ler as legendas — tudo isso no meio das corridas, onde qualquer distração pode ser fatal. 

O "CTRL + C e CTRL + V" continua com pontos de experiências para atitudes no modo de navegação livre, como pontuação para desviar de carros, correr em alta velocidade na contramão, e até mesmo quebrar o limite de radares espalhados na pista. Tudo com uma ambientação que, mesmo no Havaí, lembra muito os últimos capítulos da franquia de corrida rival da Microsoft.

No modo Viagem Livre de The Crew Motorfest, também há as atividades de ultrapassar a velocidade de radares.

Para completar, Need for Speed também "serviu de inspiração" para alguns elementos de The Crew Motorfest. Além do sistema de tuning de Underground, que também inspirou boa parte dos games do gênero, há as famosas provas de arrancadas, onde inclusive há um sistema similar de troca de marchas para fazer o menor tempo possível. 

Tudo bem, não podemos crucificar The Crew Motorfest por copiar elementos de sucesso de outros jogos, uma vez que isso é comum na indústria dos videogames há muito tempo. Porém, na maioria das vezes há uma evolução na hora de se inspirar em coisas que deram certo, mas no caso do game da Ubisoft, o que houve foi um retrocesso. 

The Crew Motorfest também conta com provas de arrancada.

O grande ponto positivo de The Crew Motorfest é a sua variedade de modos. A começar pelas provas nos circuitos de rua, que variam desde simples corridas com um determinado número de voltas, até modos como Corrida Contra o Tempo. Isso sem falar nas pequenas atividades, como manter uma determinada distância da polícia o mais rápido possível, desviar de cones em um curto espaço de tempo, e as provas de arrancadas citadas anteriormente.

Essas provas e atividades ganham uma complexidade extra de acordo com o tipo de veículo que será utilizado. Em carros de rally, por exemplo, as provas são disputadas em meio a mata fechada, necessitando de muita agilidade ao volante. Já com os Monsters Trucks, há circuitos específicos, com rampas, e uma pista mais ampla para o trajeto.

Há centenas de veículos em The Crew Motorfest.

O jogo também conta com um sistema de Equipe. Nele você pode recrutar jogadores para formar um time e assim conquistar mais pontos de experiência. Curiosamente, esse modo também já foi visto em um certo jogo de corrida. 

E para quem gosta de colecionar veículos, The Crew Motorfest conta com mais de 600 tipos diferentes. Grande parte desse catálogo é formado por carros de montadoras famosas, o que é um atrativo a mais para os que gostam de ostentar no mundo virtual. Com o adicional de poder fazer upgrades em alguns componentes, como motor, freio, rodas, sistema de amortecimento, etc. Pena que, para isso, é preciso ir correndo e ganhar essas peças, pagando apenas para aplicá-las às suas máquinas. 

Há centenas de veículos originais, de montadoras famosas, em The Crew Motorfest.

Também há um sistema de personalização que, assim como todos os jogos do gênero tem feito ultimamente, traz a possibilidade de criar designs e compartilhar com outros jogadores, ou utilizar pinturas criadas por usuários do games. Há inclusive um modo online, chamado Custom Show, onde você pode visitar virtualmente uma exposição de upgrades, de outros jogadores, e votar no seu preferido. 

Entretanto, mesmo diante de uma variedade enorme de veículos, há um elemento que chama atenção. Nos eventos principais chamados de Playlist, que formam o Modo Campanha do jogo, você disputa provas onde os carros utilizados são "emprestados". Em outras palavras, por mais que você tenha uma coleção de veículos, é obrigatório usar determinado modelo para as provas principais. Resta apenas usar sua coleção em outros modos, como o Viagem Livre, Multiplayer Online e eventos esporádicos. 

As peças para os seus carros são conquistadas a cada vitória nas principais provas do jogo.

Outro ponto no qual The Crew Motorfest traz uma inevitável comparação com Forza Horizon é em relação ao seu visual. A começar pela ambientação que, mesmo sendo um jogo na ilha havaiana de O'ahu, por onde o rival nunca explorou, é impossível não notar as semelhanças com qualquer um dos últimos jogos da Microsoft. 

As estradas litorâneas, montanhas em meio a matas fechadas, e até mesmo ruas em pequenos centros urbanos, são muito parecidas com Forza Horizon. A diferença é que em The Crew Motorfest, infelizmente, há uma grande falta de capricho. Isso porque boa parte dos elementos são um tanto artificiais, principalmente em baixas velocidades, onde é possível notar com clareza o quanto são mal desenhados. 

Diferença entre o Modo Desempenho e o Modo Resolução.

O sistema de iluminação do jogo até consegue se destacar. Na versão para PS5, no Modo Resolução, que preza pela qualidade visual do jogo e diminui os FPS, foi possível notar uma melhoria visual nesses elementos. Mas ainda sim, nada que impressione ou não tenha sido visto antes. 

Em relação ao visual dos veículos, esses sim até merecem elogios. Tanto a parte externa quanto interna de cada um deles é muito similar aos modelos reais, principalmente em carros mais populares, dos quais dirigimos com frequência no nosso dia a dia. O que prejudica é o sistema de danos que, mesmo depois de uma forte colisão, traz apenas alguns amassos e rachaduras nos vidros. 

É importante frisar que, por ser um jogo com uma pegada arcade, não podemos exigir um sistema de colisão realista, seja na parte visual ou, principalmente, na jogabilidade. Porém, um pouco mais de capricho não faria mal a ninguém.

Esse é o estado do seu carro depois de uma colisão de frente a mais de 200 Km/h.

The Crew Motorfest já está disponível para consoles e PCs. Ou seja, o game já recebeu o famoso patch de "Day One", que corrige eventuais bugs no período de testes ou de avaliação da mídia especializada. Mesmo assim, os bugs continuam presentes a todo momento no jogo. 

O principal deles é em relação a queda de frames durante as partidas. A análise do game foi feita na versão para PS5, em boa parte dela rodando no Modo Desempenho que, segundo informação do próprio jogo, preza em manter os 60 FPS. 

Porém, isso na prática não acontece. E para piorar, há corridas, como as noturnas com temática do Japão, onde, por conta dos diversos elementos na tela, fazem com que o desempenho do jogo caia drasticamente — e comprometa até mesmo a sua performance na prova.

As corridas noturnas são as que mais sofrem com a queda de desempenho por conta da quantidade de elementos na tela.

Isso sem falar em outros bugs, que parecem não ter solução à vista, como o sistema de Voltar no Tempo para refazer uma ação na corrida. Por exemplo, caso você bata em uma estrutura que espalhe itens na pista, como pedras e placas, o comando faz apenas com que seu carro retorne, mas os elementos que foram danificados continuam lá. E pior, algumas vezes isso pode causar novos acidentes.

Ainda sobre esse recurso, ele não funciona em quedas de motos, a não ser que você seja muito rápido para acioná-lo, antes que o próprio coloque a sua moto parada no ponto onde sofreu o acidente, sem a opção de refazer o movimento. O jeito é torcer para uma grande atualização que corrija tudo isso, ou pelo menos boa parte desses problemas. 

As motos sofrem com os bugs de The Crew Motorfest

Os primeiros jogos da série The Crew não agradaram o público e a crítica especializada. Os motivos foram muitos, porém, ainda sim, há quem estivesse disposto a dar uma nova chance à franquia de corridas. Entretanto, o filme se repete, e Motorfest erra em tentar abraçar o máximo de elementos possíveis, sem que nenhum deles seja bom o suficiente para salvar o jogo. 

Além disso, há uma série de bugs que comprometem a jogabilidade, e podem até mesmo prejudicar o seu progresso em muitas corridas. Para completar, o visual do game não é um dos mais atrativos e traz uma ambientação nada inovadora, que parece mais uma versão genérica dos últimos capítulos da franquia Forza Horizon.

A franquia The Crew precisa se reinventar para não ser mais uma cancelada.

Sendo assim, The Crew Motorfest é um jogo para quem busca apenas se divertir sem qualquer compromisso com uma jogabilidade realista ou com um visual atraente. Mesmo que a proposta não seja ser um simulador, o game não consegue fazer o mínimo que se espera de um título que traz uma pegada mais arcade.  

Isso leva a crer que esse pode ter sido o último capítulo de uma franquia que tentou se consolidar, mas não chegou nem perto de ter o brilhantismo de concorrentes no gênero, ou de outras séries da própria Ubisoft. A não ser que um suposto novo título traga algo totalmente feito do zero, principalmente sem se "inspirar" em concorrentes de sucesso, e fazendo o básico com qualidade antes de tentar abraçar o mundo com braços curtos.