Síndrome de Pica: conheça o distúrbio que causa hábitos alimentares incomuns
Anamaria
Você já ouviu falar em Síndrome de Pica? Apesar do nome incomum e até sugestivo, não tem nenhuma ligação com o imaginário da maioria. Trata-se de distúrbio que causa hábitos alimentares incomuns, com o desejo de comer ou mastigar objetos sem valor nutricional — ou seja, que não são alimentos.
Entre os itens incomestíveis mais comuns, estão fósforos, terra, sabão, tijolo, pasta de dente, papel, unha e até cinza de cigarro. Mas o que é este fenômeno? Para entender, AnaMaria convidou o psiquiatra Rodrigo Lancelote Alberto, do CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim".
Antes de mais nada, é preciso explicar a nomenclatura curiosa. A Síndrome de Pica ganhou esse nome em referência ao pássaro pica pica (ou pega-rabuda), espécie conhecida por comer tudo que vê pela frente. O distúrbio alimentar também é chamado de alotriofagia e picacismo.
E não é só seu nome que é intrigante. De acordo com o especialista, o distúrbio representa um desafio tanto para os pacientes como para os profissionais de saúde encarregados de tratá-lo. A causa não é totalmente compreendida, mas teorias apontam a ligação com fatores emocionais, como estresse e ansiedade, e nutricionais.
A deficiência de nutrientes, como ferro e zinco, por exemplo, pode levar à vontade de comer terra. Já no caso das gestantes, a causa pode ser hormonal: as flutuações hormonais comuns no período podem alterar o olfato e o paladar, fazendo com que certos objetos pareçam mais atraentes.
Entretanto, o consumo de itens incomestíveis não não traz benefícios. Isso porque, geralmente, esses nutrientes não são encontrados na maioria das substâncias consumidas pela pessoa que têm a Síndrome de Pica — além dos riscos evidentes, como ingerir vidro. Outros problemas:
- Complicações na cavidade oral, como deterioração e quebra de dentes;
- Riscos gastrointestinais, como obstruções e perfurações;
- Infecções e intoxicações;
- Desnutrição.
O diagnóstico da Síndrome de Pica
A identificação do transtorno alimentar também não é fácil. Lancelote explica que o motivo para essa dificuldade é a recusa do indivíduo afetado em falar abertamente sobre o problema: "Muitas vezes, há vergonha e medo de julgamento por parte deles".
Outro fator que deve ser considerado na hora do diagnóstico da Síndrome de Pica é a recorrência com que os hábitos não alimentares se manifestam. O psiquiatra ressalta que não basta o desejo — ou propriamente a ingestão — de maneira isolada. Para ser classificado como alotriofagia, o comportamento precisa se manifestar pelo menos de uma a duas vezes por mês.
Até por isso vale o alerta para as gestantes, que tendem a sentir desejos alimentares incomuns durante o período. Além das mulheres grávidas, a Síndrome de Pica é mais comum em crianças abaixo dos seis anos e indivíduos diagnosticados com transtornos mentais, como transtorno do espectro do autismo (TEA) e esquizofrenia.
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Tratamento da Síndrome de Pica
A alotriofagia é uma condição multifatorial. Isso significa que não existe apenas uma forma isolada de prevenção. As estratégias preventivas envolvem o consumo adequado de nutrientes e o apoio psicológico, além da importância da rápida identificação e abordagem após o diagnóstico.
E é quando entra o tratamento. Segundo o psiquiatra, o tratamento da Síndrome de Pica também é multifatorial e adaptado às necessidades de cada paciente: "É abrangente e envolve diversas abordagens, como nutricional, psicológica, farmacológica e comportamental".
A primeira etapa é buscar ajuda médica, a fim de realizar exames laboratoriais adicionais que identifiquem possíveis deficiências nutricionais. A depender do resultado, realizar os ajustes necessários na dieta e, se necessário, suplementação medicamentosa.
O atendimento nutricional analisa ainda a relação do paciente com a alimentação, considerando emoções, eventuais doenças pré-existentes e até o contexto sociocultural. Em paralelo, os tratamentos psicológicos e psiquiátricos também são essenciais para compreender as causas da alotriofagia: "Nesse processo, a psicologia e a psiquiatria andam conosco”, diz a nutricionista Marlucy Lindsey Vieira, também do CEJAM.
Por fim, Rodrigo destaca que a Síndrome de Pica não é necessariamente permanente. Ou seja, a condição pode diminuir ou desaparecer com o tempo. No entanto, a exposição prolongada ao distúrbio pode prolongar os efeitos, com repercussões emocionais e fisiológicas — e seus prejuízos e possíveis complicações — podendo também se estender.
Caso você sinta algum sintoma ou desconfie do aparecimento do distúbio, procure atendimento médico.
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