A Ordem: entenda como o FBI desmantelou o grupo supremacista
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Aventuras Na História
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Um dos filmes mais assistidos por brasileiros no catálogo do Prime Video, A Ordem se baseia em acontecimentos reais para narrar a história do veterano agente do FBI Terry Husk (Jude Law) que luta para desmantelar um grupo de nacionalistas brancos que quer derrubar o governo dos Estados Unidos.
O objetivo do grupo — formado pela frustração das pessoas com a derrota americana na Guerra do Vietnã, entre outras coisas — era de criar uma nação exclusiva para brancos; sem a presença de judeus.
Assim, A Ordem, que realmente existiu nos anos 1980, era liderada por Bob Mathews (Nicholas Hoult) que, embora não fosse militar, usou de cartilhas de treinamento do Exército para capacitar seus membros.
Inspirado em eventos reais chocantes, A Ordem é um suspense envolvente estrelado por Jude Law como o veterano agente do FBI Terry Husk, que desvenda um plano terrorista doméstico para derrubar o governo federal", diz a sinopse.
A dissolução do grupo ocorreu em dezembro de 1984, quando Mathews foi morto durante um confronto com o FBI; o que resultou na condenação e prisão de vários membros de A Ordem. Mas como isso foi possível?
Agente infiltrado
No início dos anos 1980, grupos de supremacistas brancos acreditavam que os Estados Unidos eram controlados sob forte influência judaica —, portanto, sem lealdade à nação americana. Assim, cada vez mais seguidores eram recrutados para organizar revoltas contra o governo do país.
Para entender o cerne desse problema, o FBI enviou um único agente para Coeur D'Alene, no norte de Idaho, em meados de 1984. Apesar de pequena, a cidade era lar do grupo religioso racista chamado The Aryan Nations (Nação Ariana) — da extrema-direita fundamentalista cristã.
O local também era antro de um grupo racista menor: The Order (A Ordem) — uma organização terrorista religiosa e política menos conhecida, conforme aponta matéria da CNN internacional.
Para essa missão, estava o agente especial Wayne F. Manis, que trabalhava infiltrado para o FBI desde o fim dos anos 1960. Em sua bagagem, ele já tinha a experiência ao investigar outros grupos supremacistas, como a New Left, em Chicago, e a Ku Klux Klan, no Alabama. Manis sabia como lidar com o idealismo radical dessas organizações e tinha familiaridade com seus métodos de organização.
Apesar da expertise de Wayne, o FBI não poderia iniciar uma investigação federal em Idaho sem que o procurador-geral dos Estados Unidos estivesse convencido de que os grupos eram ameaças reais ao governo norte-americano.
Assim, os primeiros passos de Manis foram dados para reunir provas que comprovassem a tal ameaça. Atuando como lobo solitário, ele passou meses analisando registros que pudessem ligar os crimes que aconteciam na cidade.
Nós identificamos cerca de cinco ou seis crimes diferentes e provavelmente 30 ou 40 pessoas diferentes. Esse foi meio que o começo", lembrou o agente, repercutiu a CNN.
Mas as investigações evoluíram a ponto de provar que a rede era maior do que se acreditava. A Ordem, por exemplo, liderada por Robert 'Bob' Mathews (conhecido supremacista branco de cerca de 30 anos), possuía ligações com grupos antissemitas.
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Crimes
Quando Wayne F. Manis chegou em Idaho, sequer sabia da existência do grupo, tampouco da figura de Robert Mathews; mas suas investigações apontaram que ele era um sujeito perigoso, ligado a diversos crimes.
Foi descoberto que para financiar as operações, o grupo supremacista orquestrou roubos a bancos e ataques contra caminhões blindados — resultando no desvio de milhões de dólares.
Com o dinheiro, A Ordem poderia prosseguir com seus planos. As pretensões do grupo, porém, eram um verdadeiro mistério para o FBI.
Os primeiros ataques supremacistas ordenados pelo grupo tiveram a sinagoga de Boise (cidade de Idaho) como alvo. Por sorte, ninguém ficou ferido no ataque. Mas o grupo não desistiria.
Dois meses depois, A Ordem assassinou o apresentador de rádio judeu Alan Berg, em 18 de junho de 1984. O crime aconteceu em Denver, em frente a casa do apresentador — então número dois na lista de alvos do grupo, apontam Morris Dees e Steve Fiffer, autores de "Hate on Trial: The Case Against America's Most Dangerous Neo-Nazi" ("Ódio em julgamento: o caso contra o neonazista mais perigoso dos Estados Unidos").
Com todo esse desenrolar, Manis tinha provas o suficiente para obter aval da procuradoria-geral dos Estados Unidos. "Comecei minha investigação por volta de março de 1984 e, finalmente, em julho, obtive autorização para fazer uma investigação de segurança doméstica em larga escala da organização terrorista chamada A Ordem".
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Ao fim do levantamento, ao FBI conseguiu associar A Ordem a uma série de crimes, aponta o Banco de Dados de Terrorismo Global da Universidade de Maryland. Entre eles, estão: falsificação de documentos; assaltos a banco e contra carros blindados; atentado à bomba na sinagoga; e assassinato do apresentador de rádio Alan Berg.
A caçada
Agora com o apoio do Departamento de Justiça, o FBI enviou mais agentes para auxiliar Manis. Começava assim uma caçada contra Mathews e outros membros de A Ordem. Os alvos passaram a ser rastreados: desde os motéis onde ficavam até as ligações telefônicas que recebiam e os veículos que usavam.
A agência ainda conseguiu infiltrar um informante dentro de A Ordem, que os levou a saber mais sobre Mathews e a influência do 'The Turner Diaries' ('Os Diários de Turner'), romance de 1978 que retrata a tentativa de um personagem nacionalista branco de derrubar o governo dos EUA.
A obra ficcional fora escrita pelo líder neonazista William Luther Pierce, que usou o pseudônimo de Andrew Macdonald. Além da derrubada violenta do governo, o livro também prega o extermínio de todos os inimigos não brancos.
Eles estavam seguindo 'Turner Diaries' como um mapa", lembrou o ex-agente do FBI Tom McDaniel. "É um pensamento assustador porque o personagem principal de 'The Turner Diaries' explodiu a sede do FBI.”
Sabendo dos planos do grupo, o FBI conseguiu localizar o paradeiro de Bob Mathews e outros seis membros de A Ordem: um esconderijo na Ilha Whidbey, no Puget Sound, em Washington. O local foi cercado em dezembro de 1984. "Fizemos tudo o que podíamos para tirá-lo de lá", disse Manis.
Mas quando o FBI invadiu o lugar, Bob começou a atirar. Os agentes tiveram que revidar. "Enquanto tudo isso acontecia, a casa pegou fogo. O fogo veio de um sinalizador que estava no fundo da casa", recordou Manis, segundo a CNN Internacional. "O tiroteio continuou a noite toda. Era uma zona de guerra".
Ao amanhecer, caminhei até a cabana e encontrei o corpo de Bob caído nos escombros".
Mathews morreu no local, onde seis outros membros do grupo supremacista foram presos. Nas semanas seguintes, agentes adicionais foram enviados a campo para encontrar outros membros do grupo racista.
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Conforme as prisões aconteciam, informações foram colhidas; o que auxiliou na prisão de outros membros do grupo. "Nós realmente quebramos a espinha dorsal de A Ordem naquele momento", disse o agente especial de supervisão aposentado do FBI, Donald Wofford, que também trabalhou no caso.
Um julgamento de dois meses resultou em várias condenações por acusações de extorsão. Dez membros de A Ordem foram enviados à prisão para cumprir sentenças substanciais.
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