O engano com a identidade das vítimas da erupção do Vesúvio, em Pompeia
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Um estudo divulgado no ano passado na revista Current Biology, revelou dados surpreendentes sobre as relações familiares entre as vítimas da erupção do Monte Vesúvio, ocorrida há quase 2.000 anos.
O estudo revela que algumas das interpretações tradicionais sobre os vínculos entre os indivíduos não correspondiam à realidade genética.
Por exemplo, um adulto que usava uma pulseira de ouro e segurava uma criança no colo foi inicialmente considerado como sendo mãe e filho. No entanto, a análise do DNA revelou que, na verdade, eram "um adulto masculino não relacionado e uma criança", conforme esclarecido por David Reich, coautor do estudo e professor de genética na Harvard Medical School, repercutiu o Live Science em novembro do ano passado.
Outro caso intrigante envolveu um casal encontrado abraçado. Eles foram considerados como irmãs ou mãe e filha, mas a análise genética mostrou que pelo menos um dos indivíduos era geneticamente masculino.
Essas descobertas desafiam suposições tradicionais sobre gênero e relações familiares", destacou Reich, conforme repercutido pelo Live Science no ano passado.
Análise do material
A pesquisa analisou o material genético de cinco indivíduos que morreram durante a catastrófica erupção em 79 d.C., que resultou na morte de aproximadamente 2.000 pessoas.
Quando o Monte Vesúvio entrou em erupção, uma camada de cinzas vulcânicas cobriu a região circundante, preservando os contornos dos corpos sob as camadas calcificadas de cinzas.
As ruínas da cidade foram redescobertas apenas no século XVIII, quando o arqueólogo Giuseppe Fiorelli aprimorou sua técnica de preenchimento com gesso para criar moldes das vítimas.
Através desses exemplares, os acadêmicos puderam investigar os momentos finais dos indivíduos e formular hipóteses sobre suas identidades com base em detalhes como suas posições e vestimentas.
Contudo, essa abordagem apresentou falhas — como o caso de quatro indivíduos encontrados com uma pulseira de ouro, que foram erroneamente interpretados como um casal com seus filhos.
A pesquisa
Para realizar a pesquisa, a equipe analisou 14 exemplares e extraiu DNA de restos esqueléticos fragmentados em cinco delas.
Por meio dessa análise genética, os cientistas puderam determinar as relações genéticas, o sexo e a ancestralidade dos indivíduos estudados. Os resultados indicaram que as vítimas possuíam um "background genômico diversificado", principalmente descendente de imigrantes recentes do Mediterrâneo oriental, confirmando a realidade multiétnica do Império Romano.
Alissa Mittnik, coautora do estudo e arqueogeneticista da Harvard Medical School e do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva na Alemanha, comentou: "Nossas descobertas têm implicações significativas para a interpretação de dados arqueológicos e a compreensão de sociedades antigas. Elas destacam a importância de integrar dados genéticos com informações arqueológicas e históricas para evitar interpretações errôneas baseadas em suposições modernas."
A pesquisa sugere que equívocos do passado podem ter levado à "exploração dos exemplares como veículos para narrativas", onde curadores poderiam ter manipulado as poses e posicionamentos relativos das vítimas para exposições.
Segundo Carles Lalueza-Fox, biólogo do Instituto de Biologia Evolutiva (CSIC-UPF) em Barcelona e especialista em DNA antigo que não participou do estudo, a má atribuição de sexo não é incomum na arqueologia.
Ele comentou: "Claro que olhamos para o passado com os olhos culturais do presente, e essa visão às vezes é distorcida; para mim, a descoberta de um homem com uma pulseira de ouro tentando salvar uma criança não relacionada é mais interessante e culturalmente complexa do que supor que se tratava de uma mãe e seu filho".