'Por que deveríamos ser deportados?': A carta do avô de Trump escrita em 1905
Aventuras Na História
Desde que assumiu a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump tem colocado em prática sua promessa de realizar "a maior deportação da história da América"; o que afeta milhares de imigrantes que viviam no país.
Nos últimos dias, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, falou em seu X, antigo Twitter, sobre o início dos voos de deportação de migrantes: "O presidente Trump está enviando uma mensagem forte e clara para o mundo inteiro: se você entrar ilegalmente nos Estados Unidos da América, enfrentará consequências duras".
Segundo Trump argumentou, "a soberania da América está sob ataque", declarando que o país está vivendo uma emergência nacional devido ao alto número de pessoas de outras culturas e nacionalidades vivendo nos Estados Unidos.
O assunto 'deportação', pode não parecer, mas possui ligações muito mais distantes com a família Trump. O avô do presidente dos Estados Unidos e sua família, por exemplo, acabaram deportados de seu país natal em 1905. Entenda!
Passado e presente
O assunto voltou à tona meses antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos no ano passado, quando o perfil 'Republicanos contra Trump' compartilhou uma publicação que dizia que o avô de Trump havia sido deportado com sua família de seu país natal, a Alemanha:
Fato engraçado: Friederich Trump, o avô de Donald Trump, foi deportado de seu país natal, a Alemanha, em 1905, por não cumprir o serviço militar obrigatório lá".
Em 2017, a Harper's Magazine publicou uma tradução de uma carta escrita pelo avô de Trump, Frederick Trump, ao príncipe Luitpold da Baviera. Nela, ele implorava para que o príncipe regente reconsiderasse a deportação de sua família.
A carta foi encontrada em um arquivo local e publicada pelo jornal alemão Bild em 21 de novembro de 2016. No mesmo dia, a informação foi confirmada pela Associated Press.
Segundo o periódico alemão, a carta de 1905 foi localizada por um historiador. A missiva revela uma mensagem de Frederick Trump ao príncipe bávaro Luitpold implorando ao líder "bem-amado, nobre, sábio e justo" para não deportá-lo. Luitpold rejeitou o "pedido mais subserviente".
O contexto
Conforme repercutido pelo portal Snopes, o avô de Trump nasceu em Kallstadt, então parte da Baviera, e imigrou para os EUA quando adolescente sem prestar serviço militar. Após ele 'fazer a vida' na América, Frederick tentou se reinstalar na Alemanha, mas acabou deportado e teve que voltar para os Estados Unidos.
Devido ao contexto, muitos meios de comunicação passaram a argumentar que o que ocorreu com Frederick Trump era muito semelhante às políticas contemporâneas de seu neto. Um trecho que relaciona esses dois momentos chama a atenção!
"Fomos confrontados de repente, como se por um raio vindo de céus claros, com a notícia de que o Alto Ministério Real do Estado havia decidido que deveríamos deixar nossa residência no Reino da Baviera. Ficamos paralisados de medo; nossa vida familiar feliz ficou abalada. Minha esposa foi tomada pela ansiedade, e meu adorável filho ficou doente
Por que deveríamos ser deportados? Isso é muito, muito difícil para uma família. O que nossos concidadãos pensarão se súditos honestos forem confrontados com tal decreto — sem mencionar as grandes perdas materiais que isso acarretaria. Eu gostaria de me tornar um cidadão bávaro novamente".
Frederick na América
A história por trás da carta (e da deportação) começa em meados de 1886, quando Frederick chegou à América, aos 16 anos, para trabalhar como aprendiz de barbeiro. Durante os meses seguintes, ele passou por diversos endereços e trabalhos por Nova York, até se mudar para Washington em 1891. Mais tarde, encontrou sucesso financeiro no Canadá, durante a Corrida do Ouro, conforme aponta um perfil dele na revista New Yorker:
"De repente, em 1891, Frederick foi para o estado de Washington antes de ir para as regiões de Klondike, onde seguiu uma carreira brilhante fornecendo comida, bebidas e mulheres para mineiros. Ele voltou para Nova York enriquecido, uma década depois, e continuou a se mudar, tentando o Bronx antes de se estabelecer na região de Woodhaven no Queens, onde o império Trump criou raízes mais profundas do que em Manhattan, e onde seu neto [o presidente Trump] foi criado".
Já em 1902, ele fez uma viagem à sua terra natal, onde se casou com uma vizinha chamada Elisabeth Christ, a quem levou para sua casa em Nova York: "Elisabeth, no entanto, estava com saudades de casa, e em 1904 a família retornou a Kallstadt", descreve o perfil.
Frederick, então, "trabalhou, por um ano, para obter sua cidadania de volta", conforme aponta John Walter, primo de Donald, que trabalha para a Trump Organization e atua como historiador da família.
Ele, porém, não teve sucesso. Afinal, Frederick não cumpriu seu dever militar obrigatório e, como resultado, foi expulso. "Então eles foram embora", diz Walter. "E eles voltaram para a América, e é por isso que Donald e eu estamos aqui."
Detalhes do pedido
Sendo assim, Frederick Trump implorou para que o príncipe Luitpold mantivesse sua cidadania. "Mais Sereno, Mais Poderoso Príncipe Regente! Mais Gracioso Regente e Senhor!", escreve na mensagem.
"Nasci em Kallstadt em 14 de março de 1869. Meus pais eram trabalhadores honestos, simples e piedosos da vinha. Eles me cobravam rigorosamente tudo de bom — diligência e piedade, frequência regular à escola e à igreja, obediência absoluta à alta autoridade.
Após minha formação, em 1882, tornei-me aprendiz de barbeiro. Emigrei em 1885, no meu décimo sexto ano. Na América, continuei meus negócios com diligência, discrição e prudência. A bênção de Deus estava comigo, e fiquei rico. Obtive a cidadania americana em 1892. Em 1902, conheci minha atual esposa. Infelizmente, ela não tolerava o clima em Nova York, e voltei com minha querida família para Kallstadt".
Apesar de abrir seu coração, Frederick teve o pedido negado por evitar o serviço militar obrigatório. Além disso, ele nunca havia cancelado seu registro de sua cidade natal, como exigido de um imigrante, relatou o historiador local Roland Paul ao Deutsche Welle.
O aviso oficial da deportação dizia: "O cidadão americano e aposentado Frederick Trump, atualmente residindo em Kallstadt, é informado de que ele deve deixar o estado da Baviera ou enfrentará deportação."
Assim, o casal Frederick e Elisabeth Trump retornou à Nova York em julho de 1905, no mesmo período em que a mulher estava grávida de Fred Trump, pai de Donald Trump.