A etnia indígena brasileira que está prestes a desaparecer
Mega Curioso
Uma reserva indígena localizada no interior do Mato Grosso está na iminência de desaparecer. E um detalhe: nela habitam os últimos três membros de uma etnia indígena brasileira . Esta é a história dos Piripkura, um povo isolado que corre o risco de se extinguir. A razão: o avanço da pecuária e o corte de madeira ilegal ocorrido no seu território.
A tribo dos Piripkura é composta por três pessoas: a idosa Rita Piripkura, seu irmão Baita e seu sobrinho Tamanduá. Eles são os últimos sobreviventes desta etnia, e vivem sob a constante ameaça causada pelos invasores que entram na sua terra, embora ela esteja protegida por lei.
A indígena Rita Piripkura.
A reserva piripkura tem o tamanho equivalente a 3 mil campos de futebol. Desta região, cerca de 24 km² foram devastados entre 2020 e 2021, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Embora muitas reservas estejam igualmente ameaçadas, a situação dos Piripkura é bastante crítica. "Eles estão à beira da extinção e podem ser mortos em questão de dias", comenta Sarah Shenker, da entidade britânica Survival International, que é focada na proteção de povos indígenas.
Há ainda suspeitas de que invasores estão ocupando partes da reserva. Segundo Leonardo Lenin, secretário-geral do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas (OPI), foram encontradas marcas de invasão em um local que fica a 5 km de onde Baita e Tamanduá se encontram. "Eles estão sob grande perigo, não há dúvida disso", afirma.
A situação das tribos isoladas brasileiras
Os Piripkura são apenas uma das tribos isoladas ou não contactadas (ou seja, que vivem sem contato com tribos vizinhas ou com o mundo exterior) que hoje existem no Brasil. Desde quando os Piripkura foram contatados pela primeira vez pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1984, a tribo só encolheu.
Dos cerca de 20 integrantes do povo, restam apenas 3. Rita lembra, inclusive, de um massacre em que 9 parentes seus foram mortos. "Eles [os invasores] mataram e nós tivemos que fugir", disse.
Tamanduá e Baita, ao lado de Jair Condor, indigenista da Funai.
Leonardo Lenin explica que esses confrontos com invasores impactaram enormemente sobre o modo de vida dos Piripkura. "A língua deles tem palavras que descrevem práticas de agricultura, o que sugere que eles tinham alguma forma de sociedade agrária no passado", explica. "Mas desde os anos 1970 eles se tornaram caçadores-coletores nômades. É uma estratégia de sobrevivência estar sempre em movimento."
Estima-se que há hoje cerca de 100 grupos deste tipo espalhados pelo mundo – e 50 deles estariam na Região Amazônica. A principal ameaça que esses grupos sofrem é representada por invasores.
Descaso do atual governo
Segundo os defensores dos povos indígenas, o atual governo, de Jair Bolsonaro, tem responsabilidade pela gradativa destruição dos direitos indígenas e pela destituição do território deles. Isso porque o presidente costuma afirmar que os indígenas (que representam 1,1 milhão da população brasileira) não deveriam ter direito a 13% da área territorial do país, embora isso tenha sido determinado pela Constituição Brasileira de 1988.
Há cerca de 50 povos isolados no território amazônico.
Por essa razão, Bolsonaro é o primeiro presidente do Brasil democrático a não assinar demarcações de terras indígenas, o que tem aumentado a quantidade de conflitos sangrentos na Região Amazônica.
Vale lembrar que a reserva piripkura é protegida por um dispositivo legal voltado para áreas indígenas. Mas esse instrumento precisa ser renovado periodicamente — e a ordem expedida pelo governo em setembro só dá proteção de mais 6 meses para a reserva.
Fabrício Amorim, especialista em povos indígenas, diz que esse dispositivo coloca os últimos Piripkura em risco iminente. "Essa decisão manda a todos uma mensagem errada e está dando esperança aos invasores de que eles vão se apoderar de terras indígenas cedo ou tarde", ele acredita.