Hibernação humana pode ser a solução para viagens espaciais longas?

Tecmundo






Viajar para o espaço sempre foi um grande objetivo da humanidade. A corrida espacial entre Estados Unidos e Rússia impulsionou avanços tecnológicos e estratégicos, mas ainda enfrentamos muitos desafios para viagens mais longas. Assim como nos filmes, seria possível desenvolver uma tecnologia que permitisse a hibernação da tripulação em jornadas espaciais mais distantes?
A Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos (NASA) foi a única agência espacial a enviar missões tripuladas à Lua; até hoje, é o corpo celeste mais distante alcançado pela humanidade. Mas por que ainda não viajamos para outros lugares? O principal desafio é justamente a distância, já que outros planetas estão a milhares ou até milhões de quilômetros da Terra.
Uma viagem para Marte vem sendo planejada há anos, mas ainda enfrenta diversos desafios. Especialistas estimam que apenas a ida possa levar cerca de nove meses, sem contar o retorno. Isso significa que uma missão tripulada exigiria que os astronautas passassem anos no espaço.
Marte talvez não seja o melhor exemplo, já que os astronautas conseguiriam suportar os nove meses de viagem sem grandes dificuldades.
Por exemplo, se quiséssemos enviar uma tripulação ao exoplaneta mais próximo da Terra, Proxima Centauri b, a missão só seria viável com um sistema de hibernação, já que ele está a aproximadamente 4,2 anos-luz de distância da Terra.
Para você ter ideia, cada ano-luz equivale a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros, o que deixaria essa viagem inviável para humanos com a tecnologia atual. Afinal, eles não sobreviveriam tempo suficiente nem para percorrer uma pequena fração desse trajeto.
Outro problema é a velocidade das naves humanas. Mesmo as mais rápidas, como a sonda Voyager 1, atingem apenas milhares de quilômetros por hora. Esse valor é extremamente baixo para uma viagem até Proxima b, já que nessas velocidades a jornada poderia levar quase 75 mil anos. Isso mostra que, sem avanços tecnológicos e hibernação, enviar humanos para regiões distantes do espaço é inviável.
“Até onde sabemos, não há nada de único no Homo sapiens que impeça nossa espécie de hibernar, e eu acredito que essa capacidade existe, mas precisa ser ativada. Para mim, a verdadeira questão não é se podemos hibernar, mas como... Como os neurônios no hipotálamo "sabem" que é hora de hibernar? Quem os avisa? Essa é a verdadeira questão”, disse o professor de fisiologia do sono na Universidade de Oxford, Vladyslav Vyazovskiy, em mensagem à BBC.
Hibernação humana para viagens espaciais
A ideia da hibernação humana é semelhante ao que ocorre com animais que hibernam, como alguns ursos, ouriços e sapos. Nesse estado, eles passam por diversos processos fisiológicos que os permitem sobreviver por meses sem se alimentar, a fim de economizar energia para sobreviver durante o inverno.
Na hibernação humana, os viajantes entrariam em um estado de ‘animação suspensa’, como se estivessem dormindo por um longo período até chegarem ao destino. Durante esse processo, o metabolismo seria drasticamente reduzido, e a respiração e os batimentos cardíacos diminuíram para economizar energia.
A possibilita também reduziria os efeitos psicológicos de viagens para longas distâncias, já que passar longos períodos em isolamento poderia causar desconforto mental e até crises psicológicas na tripulação.
A hibernação é um tema recorrente na ficção científica e faz parte de histórias em filmes, livros e jogos de videogame. Um exemplo clássico é o longa-metragem Alien (Ridley Scott, 1979), onde os tripulantes da nave USCSS Nostromo permanecem nesse estado em cápsulas até chegarem ao seu destino.
Assim como outras tecnologias que surgiram na ficção, a hibernação já é um tema estudado por cientistas. Em uma mensagem ao site Astronomy, a professora de biologia celular da Universidade do Colorado, Sandy Martin, explica que a ‘animação suspensa’ reduziria a necessidade de comida, água, oxigênio e outros processos fisiológicos do corpo humano.

"Acredito que sempre haverá alguns humanos que considerariam a hibernação por alguns meses uma troca aceitável, se não desejável, em comparação a passar esse tempo em espaços muito apertados ou não conseguir ir [em um voo espacial de longa duração] de jeito nenhum", Martin explica.
Ainda existem muitos desafios a serem superados para tornar esse estado em uma opção viável; seja em relação à tecnologia ou aos próprios riscos à vida humana.
A hibernação é possível?
Ao site Space, a pesquisadora da Agência Espacial Europeia (ESA), Jennifer Ngo-Anh, afirma que os primeiros estudos sobre hibernação em humanos podem se tornar viáveis em aproximadamente dez anos. Esses experimentos podem ajudar os cientistas a avaliar a possibilidade de enviar pessoas em viagens espaciais de longa duração.
Em um artigo publicado na revista científica Neuroscience & Biobehavioral Reviews, Ngo-Anh descreve a abordagem da ESA nas pesquisas sobre hibernação. Inclusive, alguns estudos já conseguiram induzir a hibernação em animais que normalmente não hibernam, como ratos. Após esse estado induzido, os ratinhos foram reanimados com sucesso.
Apesar dos avanços, ainda há muitos desafios que precisam ser superados. No caso dos ratos, a indução da hibernação precisa ser mantida constantemente , o que pode representar riscos à saúde dos animais a longo prazo. Para os humanos, os desafios dessa indução são mais complexos e exigem soluções que ainda não foram encontradas.
Desafios da hibernação humana
Existem centenas de problemas que impedem a hibernação, alguns considerados mais críticos são:
Por exemplo, um dos grandes desafios é a limitação de equipamentos médicos e o espaço reduzido dentro de uma nave espacial viajando a milhares de quilômetros da Terra. Se algo der errado, como uma falha nesses equipamentos, apenas inteligências artificiais estariam disponíveis para solucionar o problema, o que pode não ser suficiente.
Além disso, a saúde dos astronautas é um fator crítico nesse cenário. O ambiente de microgravidade pode causar efeitos negativos, como perda de massa óssea e muscular, além de problemas de visão. As pesquisas atuais sugerem que esses impactos poderiam ocorrer mesmo se os astronautas estivessem em um estado de descanso prolongado, como na hibernação.
De qualquer forma, Ngo-Anh acredita que a hibernação é a única maneira de viabilizar missões tripuladas para regiões distantes do universo. Afinal, um ser humano pode viver pouco mais de 100 anos, um tempo insignificante em relação às distâncias cósmicas. Por isso, os pesquisadores pretendem se aprofundar no tema a fim de possibilitar a hibernação em humanos.
A falta de gravidade afeta ossos, músculos e até a visão dos humanos no espaço; um problema que ainda não conseguimos resolver. Quer saber mais? Conheça os efeitos das viagens espaciais no corpo de astronautas . Até a próxima!


