O excesso de satélites na órbita da Terra estão ameaçando a astronomia?
Tecmundo
De acordo com cientistas das Universidades de Edinburg (Reino Unido), Washington (EUA), British Columbia (Canadá) e da Agência Espacial Européia (ESA), o excesso de satélites na órbita da Terra pode causar problemas e ameaçar o futuro da astronomia. Por isso, eles requisitam para que os governos criem regulamentos e regras claras que protejam a órbita, os oceanos e a atmosfera do nosso planeta.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Astronomy, o aumento dos satélites na órbita baixa da Terra já começou a causar um tipo de poluição visual para os astrônomos e outros cientistas que observam o espaço. Além disso, eles argumentam que existe um potencial risco de colisão desses satélites, inclusive, eles também têm medo dos satélites causarem colisões com naves espaciais.
Na pesquisa, os cientistas sugerem que os governos que utilizam essas tecnologias criem políticas a fim de desenvolver uma abordagem ética e sustentável em relação à órbita do espaço. Até 2022, foram registrados mais de oito mil satélites em uma viagem cíclica ao redor da Terra, contudo, a pesquisa aponta que o número pode ultrapassar 100 mil nos próximos anos.
"Contamos com o ambiente do espaço orbital olhando através dele, bem como trabalhando dentro dele. Portanto, devemos considerar os danos à astronomia profissional, observação pública das estrelas e a importância cultural do céu, bem como a sustentabilidade do comércio, cívica e militar no espaço", os pesquisadores descrevem na pesquisa.
O número de satélites em baixa órbita da Terra mais do que dobrou desde o primeiro lançamento da mega-constelação da SpaceX, em 2019.
Ao decorrer dos próximos anos, os pesquisadores esperam que o número de satélites em órbita aumente significativamente. Inclusive, segundo o site The Guardian, Ruanda planeja realizar o lançamento de duas megaconstelações com um total de 327 mil satélites.
O maior problema é que não existem regulamentações para impedir o impacto dos satélites na observação do céu . Por isso, os pesquisadores acreditam que esses equipamentos podem impactar no trabalho dos astrônomos durante observações do espaço.
Além de o risco de colisão com outros objetos orbitando a Terra, os satélites podem causar uma perigosa reação em cadeia de colisões espaciais e criar ainda mais lixo espacial ao redor do nosso planeta. Por isso, os astrônomos têm medo de que esses equipamentos comprometam a observação do espaço e, futuramente, causem uma "ameaça global sem precedentes à natureza".
"Nós realmente precisamos agir juntos. Trata-se de reconhecer que os problemas que vemos em órbita são os mesmos que vemos quando nos preocupamos com a terra, os oceanos e a atmosfera. Precisamos bater de frente e dizer como podemos resolver este problema", disse um dos autores do estudo e professor de astronomia na Universidade de Edimburg, Andy Lawrence.
Além do problema causado por possíveis colisões, os cientistas afirmam que o céu se tornará mais iluminado com o aumento de satélites. Segundo uma modelagem baseada em dados do Observatório Vera Rubin, no Chile, a parte mais escura do céu brilhará até 7,5% mais na próxima década.
Outro possível efeito do excesso de satélites na órbita baixa da Terra é causar confusão no mundo animal, pois muito animais ainda usam o céu noturno para se locomover.
Um dos autores do estudo, John Barentine, explica que isso pode causar a redução de até 7,5% na observação de estrelas pelo observatório chileno. O problema é que isso custaria US$ 21,8 milhões (cerca de 106 milhões na cotação atual) ao Observatório Vera Rubin, valor usado para fomentar quase um ano de pesquisa.
Em outro estudo publicado na revista científica Nature, a astrônoma da Universidade de San Francisco, Aparna Venkatesan, descreve que a alta luminosidade causada pelos satélites também pode ameaçar a relação da humanidade com o céu. A pesquisa explica que a perda natural do céu noturno é uma "ameaça global sem precedentes à natureza e ao patrimônio cultural".
Não é à toa que muitos astrônomos estão requisitando por uma melhor regulamentação para limitar o crescimento de constelações de satélites na órbita da Terra.
De acordo com a diretora do escritório das Nações Unidas (ONU) para Assuntos do Espaço Sideral, Simonetta Di Pippo, é necessário encontrar um meio-termo para solucionar esse problema. Ela explica que, apesar de as constelações de satélites auxiliarem no fornecimento de internet para pessoas em todas as regiões do mundo, ainda é necessário proteger a ciência e a astronomia de possíveis consequências.
Em 2020, a ONU iniciou o projeto Dark and Quiet Skies na tentativa de criar discussões sobre o tema e reduzir os possíveis problemas causado pelas megaconstelações. Contudo, alguns especialistas acreditam que a melhor forma de tratar da mitigação dos impactos dos satélites é por meio da indústria privada — há algum tempo, a SpaceX prometeu reduzir a iluminação óptica dos satélites da iniciativa Starlink para ajudar na causa.
"A SpaceX tem sido realmente líder da indústria no trabalho para encontrar um revestimento óptico que deve reduzir o brilho aparente no solo em cerca de 50 vezes. Eles também assinaram voluntariamente um acordo de coordenação com a National Science Foundation", disse o diretor assistente de relações governamentais do Observatório Steward da Universidade do Arizona (Estados Unidos), Richard Green.